Difícil descrever o que foi essa curta experiência de carro pela América Latina, o tempo era curto e a distância era longa, mas tudo se realizou de uma forma espetacular.

expedicao_002

Essa viagem foi um teste para alguns projetos que pretendemos tirar do papel a médio prazo e sem sombra de duvida foi um sucesso e deixou uma grande motivação para nós. Foram mais de 8.900 km percorridos em 18 dias, passando pelo Brasil, Argentina, Chile e Paraguai.

Tínhamos um pré-roteiro definido que acabou não se cumprindo por completo, tivemos um pequeno imprevisto para entrar na Bolívia e preferimos não correr nenhum risco desnecessário e acabar tomando uma multa ou tendo dor de cabeça na viagem, então algumas coisas foram alteradas, ficamos mais dias em algumas cidades e incluímos outras no caminho.

Estávamos em duas pessoas e somente eu iria dirigir, no primeiro dia eu já acabei alterando o roteiro, estava empolgado e fui direto até Cascavel/PR, isso não estava nos planos, iriamos percorrer uma distancia bem menor no primeiro dia. Porém, com o tempo deu para entender o quanto é cansativo dirigir longas distancias, principalmente em retas intermináveis, alguns dias cheguei pregado na cidade destino rsrsrsrs

O Roteiro

Bom como eu disse antes, algumas coisas em nosso roteiro inicial se alteraram, algumas mudanças trouxeram coisas boas e outras coisas negativas. Resistencia na Argentina seria um ponto de parada na ida e na volta, porém, não gostamos muito da cidade quando paramos na ida e resolvemos na volta parar em Corrientes, uma cidade pelo menos para nós, bem mais agradável e hospitaleira. Calama no Chile não estava nos planos e foi outra cidade que não nos agradou muito, passamos apenas uma noite, gastamos mais que o planejado e já fomos embora.

Mas os pontos positivos se sobressaem, foram muitas coisas incríveis, a subida da cordilheira na Argentina para entrar no Chile pelo Paso Jama e a descida pela Ruta 51 no Chile para entrar na Argentina pelo Paso Sico são duas estradas que ficarão guardadas na memória por muito tempo, incríveis os visuais que pegamos nessas duas estradas, nem sei quantas vezes tive que parar para tirar fotos hehehehehe

expedicao_001

Nós rodamos no total 8.925,80 km incluindo as visitas aos pontos turísticos. O roteiro entre cidades foi o seguinte:

Origem  Destino  Distância
Caraguatatuba/SP Brasil  Cascavel/PR Brasil  1.087 km
Cascavel/PR Brasil  Foz do Iguaçu/PR Brasil  183 km
Foz do Iguaçu/PR Brasil Resistencia Argentina  633 km
Resistencia Argentina San Salvador de Jujuy Argentina  823 km
San Salvador de Jujuy Argentina Calama Chile  608 km
Calama Chile Iquique Chile  400 km
Iquique Chile San Pedro do Atacama Chile  495 km
San Pedro do Atacama Chile Salta Argentina  520 km
Salta Argentina Corrientes Argentina  853 km
Corrientes Argentina Foz do Iguaçu/PR Brasil  590 km
Foz do Iguaçu/PR Brasil Ciudad del Este Paraguai  52 km
Ciudad del Este Paraguai Foz do Iguaçu/PR Brasil  52 km
Foz do Iguaçu/PR Brasil Curitiba/PR Brasil  640 km
Curitiba/PR Brasil Pindamonhangaba/SP Brasil  595 km

Algumas cidades ficamos apenas uma noite e outras ficamos alguns dias para realizar passeios que acaberei relatando em outros posts 🙂

Visitamos pontos turísticos como por exemplo:

Os Custos

Essa é a principal questão de quem pensa em fazer uma viagem dessa de carro, a ideia inicial é que os custos são extremamente altos, porém, logo que comecei a orçar percebi que não seria bem assim.

A ideia inicial era fazer tudo low cost, fazendo nossa própria comida e acampando onde fosse possível, mas para garantir que teríamos dinheiro suficiente, eu planejei a viagem como se fossemos almoçar e jantar todos os dias em restaurantes e dormir todos os dias em Hostels, além claro do consumo de combustível. Esse orçamento “luxo” ficou em R$ 9.590, 47 para duas pessoas, esse seria nosso teto de gastos.

De cara eu esqueci de orçar duas coisas que fazem uma grande diferença, o custo dos pedágios (Principalmente no Brasil) e os custos de ingressos para visitar os pontos turísticos no Chile, no final das contas esses dois pontos deram uma alterada legal nos custos, então nunca se esqueça deles.

No planejamento inicial nós também não iriamos sozinhos, iriamos com mais duas pessoas e acabaríamos revezando na direção do carro, isso não ocorreu e como eu disse dirigir toda essa distancia cansa, depois ter que montar barraca e acampar ia ser mais cansativo. Como tínhamos nos preparado para gastar aquele teto, acabamos seguindo o plano “luxo” e dormindo todas as noites em Hostels e comendo em restaurante, alguns dias não almoçamos, comemos lanche no carro mesmo.

O país mais caro foi o Chile, primeiro porque comer e dormir já custa caro e segundo que eu havia me esquecido de colocar nos orçamentos os ingressos para os pontos turísticos e por lá até mesmo um mirante para ver o por do sol é preciso pagar.

Daria para economizar bastante nessa viagem, tivemos alguns jantares e hospedagens bem acima do orçado e se tivéssemos optado por acampar sairia mais barato ainda. Como estávamos controlando bem o orçamento e a previsão de gastos dia a dia, aproveitamos bem em algumas cidades 😀

Os gastos totais ficaram em R$ 9.035,02 porque gastamos R$ 1.059,03 com coisas que não estavam orçadas inicialmente como os pedágios, ingressos, gorjetas e um imprevisto de arrumar um pneu furado.

Descrição Alimentação Combustível Hospedagem Outros Total
Orçado R$ 2.379,20 R$ 3.911,27 R$ 3.330,00 R$ 0,00 R$ 9.590,47
Realizado R$ 1.422,38 R$ 3.593,00 R$ 2.960,61 R$ 1.059,03 R$ 9.035,02
Saldo R$ 956,82 R$ 318,27 R$ 339,39 -R$ 1.059,03 R$ 555,45

Hospedagem

Inicialmente não tínhamos nenhuma hospedagem reservada, chegávamos na cidade e íamos procurar. Porém, isso não estava dando muito certo, principalmente no Chile, chegamos lá na mesma data de um feriado grande (Fiesta Patria) e tudo estava lotado. Em Calama não achamos nada, rodamos a cidade por muito tempo e acabamos ficando em um hotel de 4 estrelas, passando bem do que tínhamos orçado, não foi de todo ruim curtir uma piscina e uma banheira de hidromassagem, mas nos custou U$ 57,00 uma noite. Depois disso começamos a procurar no booking.com o hostel da próxima cidade que estaríamos e os custos ou ficaram abaixo do orçado ou exatamente igual, o que equilibrou as contas novamente.

Alimentação

Alguns dias nós não almoçamos, antes de sair do Brasil fizemos um pequena compra de bobeiras e levamos para a viagem água, refrigerante, suco, bolacha e salgadinhos. Parávamos para comprar gelo e tínhamos tudo geladinho na estrada e nos poupou uma graninha (Uma lata de coca-cola nas estradas chilenas não fica por menos de 1.500 pesos, com a cotação de hoje (03/10/16) de R$0,0049, uma latinha não sai por menos de R$ 7,35)  e tempo parando em postos na estrada.

Os jantares na Argentina foram tranquilos, tudo dentro do orçado, os preços são bem mais tranquilos. Inclusive se você pensa em comer carne de lhama, experimente na Argentina, porque assim que entrar no Chile o valor do prato vai triplicar. Iquique no Chile foi a cidade mais cara para jantar, ficamos hospedado a beira-mar e só com restaurantes caros próximos, ficamos com preguiça de ir longe e um jantar para dois ficou acima dos R$ 250,00, mais uma vez não da para reclamar não porque a comida estava muito boa rsrsrs

expedicao_003

Em San Pedro do Atacama, onde passamos mais dias hospedado, logo no primeiro dia já vimos que seria caro almoçar e jantar por lá, porém, brasileiro é uma raça que gosta de ajudar o outro né, o primeiro casal que encontramos já perguntou se sabíamos onde iriamos comer e nos falaram para ir no La Pica’da del indio (A placa é para sacanear brasileiro porque o ‘da é minusculo, então da rua de noite fica “La Pica del Indio” :-/) na rua Tocopilla. Foi a melhor dica da viagem, enquanto um prato simples gira em torno de $ 9.500 pesos chilenos em San pedro, nesse restaurante pagamos $ 4.500 pesos chilenos com entrada, prato principal e sobremesa, com uma comida extremante gostosa e além disso aceita cartão de crédito e de debito para pagamentos. O restaurante faz fila na porta e fica abarrotado de brasileiros, se não quer fila, chegue cedo.

expedicao_004

Combustível

Nós gastamos 888,43 litros de combustível e a média do valor de cada litro foi de R$ 4,044.

O consumo do carro ficou na média de 10,04 km/l e raramente passei dos 100 km/h.

Tanto na Argentina quanto no Chile, os postos de combustível se chamam “estación de servicios”

A gasolina na Argentina se chama Nafta e a que devemos usar nos carros brasileiros é a Nafta Super (Grado 2), aqui próximo da fronteira os frentistas geralmente sabem disso, agora conforme você se afasta eles já não fazem a menor ideia de qual usar. Não peça para colocar Gasoil porque é Diesel 😀

No Chile a gasolina que devemos usar em nossos carros é a 93, lá eles fazem menos ideia ainda de qual colocar.

Não tivemos nenhum problema com abastecimento, nas estradas argentinas os postos ficam em média a 430 km um do outro, salvo algumas exceções quando há pequenas cidades próximas. Não deixe chegar próximo da reserva para abastecer, durante a viagem, um dos postos estava sem energia elétrica e não podia abastecer e outro havia acabado a nafta super, então se você depender só disso pode ficar na mão.

No Chile os postos também ficam bem afastados, é mais fácil encontrar dentro das cidades por onde passar.
Em San Pedro do Atacama o posto funciona 24h por dia, fica na rua Toconao, só que fica dentro de um Hotel, você vai ver uma plaquinha pequena de madeira escrita combustível, entre que é lá mesmo.

Se você pretende sair do Chile pelo Paso Sico e pegar a Ruta 51 na Argentina, são 520 km sem posto de combustível, com estrada ruim de areia e ainda a fronteira no caminho, encha o tanque porque boa parte da estrada é deserta.

Outros Gastos

Como podem ver, os gastos não previstos ficaram altos, não esqueça de colocar eles no seu orçamento.

Os pedágios no Brasil são os mais caros e em maior quantidade, para chegar até Foz do Iguaçu no Paraná saindo aqui do interior de São Paulo, pagamos R$ 153,90 de pedágio. Na volta só de Foz do Iguaçu até Curitiba também no Paraná, pagamos R$ 98,90 em 640 km de estrada.

Na Argentina existem pedágios apenas quando vai passar de uma província a outra e são baratos, variam de $15 a $30 pesos argentinos.

No Chile raras coisas podem ser visitados sem pagar ingresso, mesmo que seja apenas um mirante, então pesquise bem o que vai colocar no seu roteiro.

Outras Informações

Quando estávamos planejando a viagem, todos nos falaram que teríamos problema com a policia argentina e que teríamos que pagar uma “gorjeta” para eles nas estradas desertas. Assim que voltamos, uma das primeiras perguntas sempre era quanto gastamos com a policia, porém, ou demos muita sorte ou a policia argentina realmente é muito gente boa, educada e não tivemos nenhum problema.

Fomos parados por 15 policias nas estradas argentinas, todos extremamente educados, nos pediram os documentos, alguns pediram para abrir o porta-malas e tudo fluiu muito bem. Creio que a educação e cumprir as regras deles faz a diferença, aqui tem um post sobre itens e documentos obrigatórios caso tenha dúvida do que precisa.

No Chile não fomos parados por nenhum policial nem na cidade e nem nas estradas. Existem alguns pontos de aduana no meio da estrada, nelas existem placas que a parada é obrigatória mas não há cancela, você tem que seguir o que os outros motoristas estão fazendo, estacione o carro no acostamento, vá até a cabine de liberação com o documento de entrada do veículo no Chile, eles vão carimbar e você pode seguir viagem, não sei o que acontece se você passar direto.

Para atravessar a fronteira da Argentina para o Chile, eles olharam tudo mesmo dentro do carro, até mesmo minhas panelas de camping eles pediram para abrir para ver se tinha algo dentro.

Eu não me senti a vontade até “ligar” o 4×4 na Ruta 51 descendo a cordilheira dos Andes, é uma estrada cheia de cotovelos, com precipícios enormes na lateral da pista, sem proteção e para piorar a pista é de areia. Não recomendaria sair do Chile pelo Paso Sico com um carro 4×2.

Tiago
Um paulistano morando aos pés da Serra da Mantiqueira, formado em Administração, Turismo e Data Science, criador do blog Fé no Pé, proprietário da Estratégia Software e da NaMoska 3D, guia de turismo, montanhista, mochileiro e voluntário da Sea Shepherd Brasil

5 thoughts on “Expedição Interoceânica – Roteiro e Custos

  1. pelo que diz em seus relatos, é proibido insulfilm nos vidros do carro, mas o que vejo em suas fotos é um TR4 filmado.
    Teve problemas por conta disso?

    1. Bom dia Marcio,

      Eu não tive problema com isso em nenhum local, na fronteira (Paso Jama) eu cheguei a questionar se teria problema e me informaram que somente carros do chile não poderiam ter.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.