Esse aqui é a continuação do post sobre a travessia da Serra Fina, se você ainda não leu as duas primeiras partes, da um pulo lá antes para entender o que rolou até agora:
Travessia Serra Fina – Parte 1 – Para o Alto e Avante
Travessia Serra Fina – Parte 2 – Frio e vento forte
A Travessia
Bom no último post eu parei no rio no Vale do Ruah, ultimo ponto de água até praticamente o final da trilha. Eu fiquei com 1,25l de água na mochila e mais 1l que fiz um isotônico e meu pai ficou com 2,5l na mochila dele, dessa forma teríamos 3,75l de água para praticamente 2 dias.
Para continuar a travessia, basta seguir o rio pela trilha do lado direito dele por mais ou menos 20 minutos e ai a trilha começa a subir para a direita, é um subidinha um pouco ruim devido ao capim muito alto, nesse ponto não tem totens mas você vai encontrar umas fitas vermelhas presas em alguns galhos, só segui-las e continuar subindo. No fim dessa subida existe uma pequena clareira para descansar, depois dali será uma sequencia de sobe e desce pela crista da serra em direção ao pico Cupim de Boi, logo que você sai dessa clareira e começa a descer, fique esperto na bifurcação da trilha, existe um ponto a mais ou menos 5 minutos da clareira onde a trilha se divide em uma que desce uma que sobe a direita, você tem que seguir essa a direita.
Depois disso não tem segredo, só seguir a trilha. A paisagem desse trecho é muito bonita, ela passa varias vezes por dentro de pequenos pedaços de mata, com muito musgo nas raízes, fica um cenário muito bonito mesmo e em alguns trechos você já vai começar a perceber o quanto o bambu atrapalha no deslocamento, principalmente se sua mochila for muito alta ou se estiver com coisas penduradas.
A parte final desse trecho até o Cupim de Boi é literalmente na crista da serra, em trechos bem finos mesmo onde você vai subindo pelas pedras, pegamos um vento e uma neblina legal nesse ponto, tome cuidado andando nessa crista. Chegando perto do Pico, ao seu lado direito é possível avistar a represa do funil e a Serra da Bocaina, vale a pena umas fotos ali.
Bom aproximadamente 1:40h depois de muito sobe e desce, chegamos no Cupim de Boi e como de costume, fechou o tempo, subiu uma neblina forte e muito vento. Nesse trecho temos que descer a esquerda passando por um vale onde existe um ponto grande de camping no meio do bambuzal. Paramos um pouco para ver se a neblina passava mas não adiantou, descemos as pedras com pouca visibilidade mesmo, o caminho é só de pedra, um pouco ingrime, mas basta seguir os totens e em 5 minutos já esta no vale.
Chegando no bambuzal considere montar acampamento se muitas pessoas tiverem passado por você em direção ao Pico dos Três Estados ou se estiver muito cansado, o caminho em frente é bem cansativo.
Nós achamos esse trecho final entre o Cupim do Boi e o Pico dos Três Estados o mais difícil do dia inteiro, existem muitos trechos de escalaminhadas e algumas bem ingrimes, não é nada muito alto, mas tome bastante cuidado nesse trecho.
Após passar as escalaminhas, o Pico dos Três Estados estará a sua frente, será necessário descer um pouquinho até um vale e ai começar a subir. Paramos um pouco para descansar e meu pai perguntou quanto tempo eu achava que faltava até o cume, olhei para o caminho e achei que daríamos a volta pelo lado esquerdo dele, subindo pela longa crista e então chutei mais 1:30h de subida. Engano meu, quando começamos o caminho seguindo o GPS, o caminho é subindo o cume em linha reta mesmo, com muitos, muitos trechos de escalaminhada e muito, muito barro. Minha previsão de 1:30h na verdade durou 20 minutos e alcançamos o cume.
Como já era de se esperar, o cume estava abarrotado de gente, ali pensamos em continuar sentido ao Alto Ivos, mas como estávamos cansados e queríamos tentar pegar o nascer do sol, começamos a procurar um lugar para a barraca. Estava tudo muito lotado mesmo e achamos um pequeno espaço logo ao lado da marcação de ferro que divide os três estados(primeiro pensamento era, se começar a chover a gente joga isso para longe, não queríamos um para-raio ao lado da barraca rsrs). O lugar era extremamente horrível, haviam duas pedras enormes na ponta e no meio da barraca, mas era o único, então montamos tudo ali mesmo.
Bom com relação a água, eu bebi pouco e ainda tinha 700ml de água, nada de isotônico e meu pai tinha ai pouco mais de 2,5l de água. Pegamos 600ml de água para fazer comida, fizemos uma mistureba de sopão com o arroz liofilizado e aquela sopa Vono para engrossar o caldo, ficou muito bom, deu um belo jantar. Como estava frio e o tempo fechado, decidimos comer e ir dormir, isso por volta das 18:00h, olhamos o estoque de água e concordamos que com quase 2,7l de água estaríamos tranquilos para o dia seguinte.
A noite foi horrível, deixei meu pai no canto da barraca e fiquei no meio, junto com as pedras, nenhuma posição ficava boa e toda hora eu batia a cabeça ou o braço na pedra, mas tudo bem, era a última noite mesmo.
Pela manhã começamos a ouvir o pessoal falar em volta que o tempo estava aberto, o que nos animou, teríamos o nascer do sol que não tivemos nos dias anteriores. Sai da barraca e estava muito frio, peguei a câmera e fiquei ali no marco de metal para pegar o nascer do sol.
Bom a palavra para descrever esse nascer do sol é “espetacular”, o sol começa a clarear tudo por detrás do Pico das Agulhas Negras antes de aparecer, deixando aquele céu com vários tons de cores e aquele mar de nuvens abaixo do Pico.
E logo depois começa a aparecer por detrás das montanhas, uma visão dessa, vale sem duvida a noite mal dormida e todas as subidas e descidas da travessia.
Nesse tempo o pessoal que estava acampado lá no bambu na base do pico começou a chegar para ver o nascer do sol e o cume foi ficando cada vez mais cheio. Encontramos lá no cume também a Gisely do blog A Montanhista, o Rafael do blog Seu Mochilão e o Keisuke do blog Outdoor, junto com o Fé no Pé, todos blogs que fazem parte da RBO (Rede de Blogs Outdoor)
Batemos mais algumas fotos e ai era hora de desmontar acampamento para ir embora. Quando começo a montar minha mochila e pego minha água qual minha surpresa? Não tinha mais água, meu pai bebeu praticamente os meus 700ml de água durante a noite kkkk ficamos apenas com 2l de água para o dia inteiro.
Como tudo desmontado era hora da última foto e ai começar a descida, na minha cabeça o último dia seria só descida, varias pessoas me falaram que era um dia chato, com muita descida, então fui preparado para descer o dia inteiro…quanta inocência rsrs
Antes de começar a descer, consegui com a Thais que também estava acampada no cume, mais 500ml de água e fiz um isotônico para ajudar na hidratação da descida. A descida fica do lado esquerdo do pico quando você esta de frente ao Pico das Agulhas Negras, é uma descida um pouco técnica mas sem erros de navegação, basta seguir os totens. Durante a descida fomos encontrando gente pelo caminho que não encontrou lugar no cume dos Três Estados e foi acampando por onde deu mais para frente.
Durante a descida também existem paisagens incríveis, paramos varias vezes para bater fotos.
Depois de descer bastante qual foi nossa surpresa? Ainda tinha que subir bastante, para depois descer tudo de novo rsrs
A subida do Pico do Bandeirante é muito técnica, andando na lateral do Pico pela rocha, com trilhas bem estreitas e vários pontos de escalaminhada. Depois do Pico do Bandeirante, começa uma bela descida ingrime em direção ao Pico Alto dos Ivos, entre esses dois picos existem alguns pontos de camping e um ponto grande no meio do bambuzal antes da subida do Ivos. O caminho do Bandeirante até o Ivos leva mais ou menos 1:20h e a subida do Ivos é de matar, ainda mais porque na nossa cabeça não teríamos que subir mais, o corpo não queria mais subir.
No cume do Ivos é um belo ponto para descansar(todo mundo parava lá), desse ponto em diante a quantidade de subida grande diminui, passando o Ivos basta manter o Picu(um pico com forma peculiar de Itamonte) a sua esquerda e começar a descer. Esse caminho não tem erro, mas parece que não acaba nunca, é uma infinidade de caminhos por entre os bambus, nada parecido com os dias anteriores, é muito bambu mesmo, prende em tudo que você possa imaginar. Algumas subidas no caminho e próximo do fim a trilha é por dentro de uma mata com caminho praticamente plano. Depois do Ivos, mais ou menos 3:00h de caminhada e chegamos em uma bica d’agua e não é que chegamos lá ainda com água na mochila rs.
Essa bica d’agua fica a direita da trilha, não tem como não ver, porém, não é o último ponto de água até o ponto de resgate, se esse ponto estiver muito cheio, continue caminhando mais uns 10 minutos até a fazenda Engenho da Serra, passe a entrada da fazenda e pegue a estrada de terra(uma estrada que parece infinita), logo na primeira curva, do lado direito existe outro ponto de água.
Continue descendo a estrada por mais uns 15 minutos até chegar na rodovia onde é feito o resgate. Chegar no ponto de resgate é uma alegria imensa por ter concluído essa travessia linda e cansativa. Saímos do Pico dos Três Estados por volta das 08:00h e chegamos no ponto de resgate por volta das 14:00h.
Quando chegamos no ponto de resgate já haviam bastante pessoas esperando o resgate e cada vez chegavam mais. Conforme fomos conversando, das 34 pessoas que estavam esperando, apenas 5 tinham outra forma de ir embora que não fosse o resgate do Edinho, justamente o cara que nos levou até o começo da trilha e que já tínhamos pago para fazer nosso resgate. Ele combinou com praticamente todos que estavam fazendo a travessia sem guia e praticamente no mesmo horário, resultado foi muita gente esperando e reclamando.
Após quase 2:00h esperando chegou o Manoel, que estava prestando serviço para o Edinho com um Kombi e ele estava junto com o Edinho quando ele nos levou até a entrada da trilha, como já tínhamos pago o trajeto de volta, fomos conversar com o Manoel e um grupo de 6 pessoas de São Paulo também foi conversar para acertar uma viagem direto para Cruzeiro/SP ao invés de voltar para Passa Quatro/MG. Depois de algumas negociações, conseguimos fechar com o Manoel a kombi com 8 pessoas(meu pai, os caras de São Paulo e eu) para nos levar direto para Cruzeiro/SP. O Manoel foi super gente boa, recomendo a contratação dele para levar até a trilha e fazer o resgate, no caminho até Cruzeiro ele ainda parou em um restaurante na estrada para comermos alguma coisa antes de encarar o ônibus de volta para casa.
Para finalizar, essa pode até não ser a travessia mais difícil do Brasil, porém, o grande desnível topográfico e os poucos pontos de água a deixam entre as mais difíceis sem duvida. Um grande desafio vencido e novas amizades feitas na montanha 😉
Contatos
Vou deixar aqui alguns contatos para facilitar na logística da travessia.
Manoel: (35) 9122.1227 / manoel_uchoas@hotmail.co.uk -> Transporte
Edinho: (35) 9963-4108 / (35) 9109-2022 -TIM -> Transporte
Carlos Moura(Mantiex) : (12) 98109.3292 / mantiqueiraexpedicoes@gmail.com -> Guia e Transporte
Guto Guia: (35) 3371.3355 / (35) 9169.9878 -> Guia
Willian Peres(Andar) : (35) 9169 5706 / (35) 9135 2330 -> Guia e Transporte
otimo relato, muito bom.